ATA DA SÉTIMA SESSÃO SOLENE DA SEGUNDA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA PRIMEIRA LEGISLATURA, EM 23.06.1994.

 


Aos vinte e três dias do mês de junho do ano de mil novecentos e noventa e quatro reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Sétima Sessão Solene da Segunda Sessão Legislativa Ordinária da Décima Primeira Legislatura. Às onze horas e dez minutos constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadão Emérito ao Senhor David Zimmermann, conforme Projeto de Resolução nº 40/93 (Processo nº 3161/93), de autoria do Vereador Isaac Ainhorn. Compuseram a MESA: Vereador Luiz Braz, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Senhor Agenor Casaril, Procurador Geral de Justiça do Estado; Desembargador Tupinambá Castro do Nascimento, representante do Tribunal de Justiça do Estado; Jornalista Adauto Vasconcelos, representante do Senhor Prefeito Municipal; Senhor Luiz Antonio Bento Mostardeiro, Presidente da Fundação Instituto Mário Martins; Jornalista Firmino Cardoso, representante da Associação Riograndense de Imprensa; Professor David Zimmermann, Homenageado; Vereador Isaac Ainhorn, na ocasião, Secretário “ad hoc”. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, de pé, ouvirem a execução do Hino Nacional. Em prosseguimento, concedeu a palavra ao Vereador Isaac Ainhorn que, como proponente e pelas Bancadas do PDT, PMDB, PTB, PPR, PC do B, PFL, PP, PPS e PSDB, disse ser esta uma oportunidade singular e ímpar para esta Câmara Municipal que, em raras oportunidades, consegue reunir a comunidade cultural da sua Cidade. Historiou sobre a vida do Homenageado, dizendo ser Sua Senhoria uma das figuras mais insignes da cultura médica riograndense na área da psiquiatria e psicanálise. Falou, ainda, que esta se constitui na mais justa homenagem a quem se dedicou com intensidade a Porto Alegre. Finalizando, afirmou que a Cidade é agradecida ao Senhor David Zimmermann e se sente honrada em lhe conferir este Título. O Vereador Henrique Fontana, pela Bancada do PT, disse que apesar de não conhecer pessoalmente o Senhor David Zimmermann, sempre ouviu falar muito bem de sua pessoa e do que representa para esta Cidade. Colocou seu elogio ao Homenageado por este ter se comprometido com muitas iniciativas em benefício da sociedade, sempre com a certeza de que esses projetos dariam certo. Salientou que é preciso agir, se comprometer e que temos um exemplo vivo dessas atitudes na figura do Homenageado. Em continuidade, o Senhor Presidente registrou as presenças dos Senhores Miguel Hadad, representante da Sociedade de Psiquiatria do Rio Grande do Sul, Mário Finckel, representando o Delegado do Ministério de Educação e Desporto do Rio Grande do Sul, Conselheiros, Diretores e Funcionários da Fundação Instituto Mário Martins, bem como, colegas, professores e alunos do Homenageado. Logo após, o Senhor Presidente convidou o Vereador Isaac Ainhorn a proceder a entrega do Título Honorífico de Cidadão Emérito ao Senhor David Zimmermann. Ainda, solicitou ao Senhor Luiz Antonio Bento Mostardeiro para fazer a entrega ao Homenageado de placa comemorativa referente ao Título hoje entregue pela Casa. Em prosseguimento, o Senhor Presidente procedeu a leitura do Título de Cidadão Emérito e da Placa ofertados ao Senhor David Zimmermann, concedendo, logo após, a palavra ao Filho de Sua Senhoria, Senhor Sérgio Zimmermann que, em nome do pai agradeceu o título recebido e a oportunidade de homenagear e retribuir a Porto Alegre, a seus habitantes e seus parques, enfim, por tudo o que recebeu e pelo que é. Após, o Senhor Presidente disse que a presente homenagem representa o agradecimento desta Casa ao trabalho realizado pelo Senhor David Zimmermann em prol da nossa comunidade. Ainda, destacou ter Sua Senhoria, através de uma trajetória de muitas lutas, alcançado os objetivos que traçou para si, sendo um exemplo a ser seguido por todos. Às onze horas e cinqüenta e sete minutos, o Senhor Presidente agradeceu a presença de todos e, nada mais havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos, convidando os Senhores Vereadores para a Sessão Solene de hoje, às dezoito horas no Museu de Artes do Rio Grande do Sul. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Luiz Braz e Secretariados pelo Vereador Isaac Ainhorn, como Secretário “ad hoc”. Do que eu, Isaac Ainhorn, Secretário “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores 1º Secretário e Presidente.

 

 

 


(Obs.: A Ata digitada nos Anais é cópia do documento original.)

 

 


O SR. PRESIDENTE (Luiz Braz): Damos início à presente Sessão Solene destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadão Emérito ao Prof. David Zimmermann.

Convidamos para compor a Mesa o Exmo. Sr. Homenageado Prof. David Zimmermann; Exmo. Sr. Procurador-Geral da Justiça do Estado, Doutor Agenor Casaril; Exmo. Sr. representante do Sr. Prefeito Municipal, Jornalista Adaucto Vasconcelos; Exmo. Sr. Presidente da Fundação Instituto Mário Martins; Doutor Luiz Antonio Bento Mostardeiro; Exmo. Sr. representante da ARI, Jornalista Firmino Cardoso; Exmo. Sr. representante do Tribunal de Justiça do Estado, Desembargador Tupinambá Castro do Nascimento.

Agora que a Mesa está composta convidamos a todos para juntos, de pé, cantarmos o Hino Nacional Brasileiro.

 

(O Hino Nacional é executado.)

 

Sempre que esta Casa vai prestar uma grande homenagem a um dos homens que se destaca entre todos os segmentos da sociedade, sempre que um grande homem vai receber aqui o reconhecimento de toda a sociedade de Porto Alegre, é muito importante que no início da solenidade nós possamos ouvir, talvez, um dos maiores símbolos nacionais, que é o nosso Hino. É uma das coisas mais bonitas que nós temos para ouvir e para oferecer a todos aqueles que agora, com o espírito nacional, se preparam, quem sabe, para começarem a viver um novo País, um novo Brasil.

Nós chamamos o primeiro orador desta manhã, Ver. Isaac Ainhorn, como proponente que também falará pelas Bancadas do PDT, PMDB, PTB, PPR, PC do B, PFL, PPS e PSDB.

 

O SR. ISAAC AINHORN: Exmo. Sr. Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, Ver. Luiz Braz; Exmo. Sr. Homenageado, Professor David Zimmermann; Exmo. Sr. Procurador-Geral de Justiça do Estado, Dr. Agenor Casaril; Exmo. Sr. representante do Tribunal de Justiça do Estado, Desembargador Tupinanbá Castro do Nascimento; Exmo. Sr. representante do Sr. Prefeito Municipal, Jornalista Adaucto Vasconcelos; Exmo. Sr. Presidente da Fundação do Instituto Mário Martins, Dr. Luiz Antonio Bento Mostardeiro; Exmo. Sr. representante da ARI, Jornalista Firmino Cardoso; minhas Senhoras, meus Senhores. Esta é uma oportunidade ímpar, singular da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, que reúne uma comunidade cultural da sua Cidade que, em raras oportunidades, comparece ao Legislativo Municipal, e assinalo a importância deste comparecimento. Ela compareceu no momento que a Câmara Municipal de Porto Alegre presta homenagem a uma das suas figuras mais insignes e representativas da cultura rio-grandense. Trata-se da figura do homenageado que nesta oportunidade, neste dia, recebe o Título de Cidadão Emérito de Porto Alegre. Esta Casa possui e outorga dois títulos: um, que é o Título de Cidadão de Porto Alegre que confere e outorga a condição de porto-alegrense a uma pessoa que, não sendo porto-alegrense, prestou relevantes serviços à Cidade e a sua comunidade; outro, é o Cidadão Emérito de Porto Alegre, justamente atinge, na sua grande maioria, pessoas que são de Porto Alegre, que prestaram e vêm prestando um significativo e representativo papel na Cidade. E é esta figura, através destes instrumentos, que a Câmara de Vereadores vem prestar a homenagem a pessoas insignes na sua Cidade. Esta, indiscutivelmente, é uma rara oportunidade, é uma oportunidade, como disse no primeiro momento da minha intervenção, singular e ímpar, que presta a homenagem a uma das figuras que a Cidade, o Estado e o País reconhece como uma das figuras mais representativas da vida cultural do País, sobretudo na área da Psiquiatria a da Psicanálise. Nos orgulha muito, como Vereadores de Porto Alegre e como representantes da sociedade porto-alegrense, nesta oportunidade, outorgar este título, porque entendemos que se constitui naquilo que representa a mais justa e merecida homenagem que alguém que se dedicou - com a intensidade que se dedicou, à Cidade, às suas pessoas - poderia merecer e ser reconhecido por sua Cidade.

Evidentemente que David Zimmermann já há muito é um nome representativo da cultura médica na nossa Cidade, no Estado e no nosso País. A sua projeção, nós sabemos, é internacional, o que é motivo de uma grande ponta de orgulho para nós porto-alegrenses e rio-grandenses, porque Porto Alegre é dos grandes referenciais da cultura e da Medicina na área da Psiquiatria, da Psicanálise e, sobretudo, da introdução da Psiquiatria Dinâmica em nosso Estado, e é um referencial em termos de Brasil e América Latina pela figura que hoje estamos homenageando. Referir o seu currículo, e é importante: filho de imigrantes que consegue depois de uma longa e dura jornada, se formar e orgulhar a seus pais com o título, já nos idos de 46, de médico especialista. Referir o seu currículo... Pelo menos vale a pena repisar alguns pontos: especialista em psiquiatria pela Sociedade de Neurologia Psiquiatria e Neurocirurgia do Rio Grande do Sul, pela Associação Médica Brasileira e pela Associação Brasileira de Psiquiatria; formação psicanalítica, seminários teóricos e supervisão de trabalho clínico de 1948 à 1960; Doutor em Medicina pela Faculdade de Medicina de Porto Alegre, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em virtude da aprovação e defesa de tese sobre o título “A Dinâmica de Grupo Terapêutico”, com grau dez; Livre-Docente pela Faculdade de Medicina, departamento de psiquiatria e Medicina Legal da UFRGS, de acordo com a Resolução 21/72; Doutor em Medicina pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, por haver-se habilitado à livre-docência em que se inscreveu de acordo com a Lei 5802; Professor de Psiquiatria da Faculdade de Medicina de Porto Alegre, admitido no ano de 1953, no Curso Médico: Psicologia Médica, Introdução à Psiquiatria, Introdução à Psiquiatria II, Introdução à Psiquiatria III, Introdução à Psiquiatria IV, Psiquiatria e Estágio Optativo da 6ª Série, de 71 a 78; Coordenador do Estágio em Psiquiatria destinado a avaliar e selecionar os candidatos ao Curso de Especialização em Psiquiatria. No Curso de Psicologia: Introdução à Psicopatologia I e Introdução à Psicopatologia II; atividades docentes em cursos da UFRGS, Enfermagem, Orientação Educacional na Faculdade de Filosofia, fundador, professor e coordenador do Curso de Especialização em Psiquiatria, realizado em três anos, através do Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal da UFRGS, de 1953 a 1986, no qual concluíram a sua formação 26 turmas nesse período, com um total de 188 psiquiatras. Na segunda fase, o curso funcionou no Instituto Carlos Chagas de Porto Alegre, de 1985 a 1991, no Instituto Mário Martins de Porto Alegre, com cinco turmas, estando em formação ou já formados mais de 53 médicos psiquiatras; e somando-se, nós encontramos um número de 241 psiquiatras. Analista de data do Instituto de Psicanálise da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre, membro titular da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro, organizador, professor e coordenador de mestrado em Psiquiatria, desde 1978. Orientou o início da atividade didática, supervisionando alunos de mestrado em Psiquiatria, desde 1978. Desenvolveu atividades de supervisão de Psicoterapia de objetivos limitados para alunos de mestrado em Psiquiatria, também desde 1978. Foi Presidente da comissão examinadora, juntamente com os Drs. Pedro Luís Costa e Irene Abuchaim, que examinaram o trabalho de conclusão do Curso de Especialização em Psiquiatria, sob o título “Gravidez Indesejada, Fatores Psicológicos e Sociais Associados a sua Ocorrência”, do Dr. Jorge Salton. Foi Presidente de diversas comissões organizadoras, avaliou dissertações, integrou comissões julgadoras de prêmios. Em suma, nós poderíamos encontrar toda essa gama, esta vasta atividade de uma vida dedicada a sua comunidade, a sua sociedade, deixando este currículo que nos apresenta e que orgulha a todos nós, porque ele é um filho da Cidade de Porto Alegre. Sempre, nessas ocasiões, a gente sente uma ponta de orgulho e de satisfação na medida em que o Senhor é um dos nossos, Dr. David. Assim como Freud e outros eram admirados em suas cidades, a nossa Cidade se orgulha de o Senhor ser um dos nossos, tendo feito da sua vida um apostolado, constituído a sua vida em apoiar pessoas e ser um orientador das pessoas que passaram a desenvolver a sua atividade profissional. Por tudo isso, a honra para a Cidade de Porto Alegre, para a representação política, para a representação da sociedade porto-alegrense, instrumentalizada nesta Casa, Câmara de Vereadores. Aqui, a representação política maior da Cidade, e as pessoas vivem na Cidade. O espaço humano é a Cidade, não é o Estado ou o País, que são constituições mais abstratas. A Cidade é o centro das nossas vidas, das nossas angústias e das nossas alegrias. E hoje, Ver. Luiz Braz, Presidente desta Casa, quando homenageamos e outorgamos o Título de Cidadão Emérito de Porto Alegre ao Professor David Zimmermann, nada mais estamos fazendo do que instrumentalizar, concretizar do ponto de vista legal aquilo que já existia de fato, que é o reconhecimento da sociedade porto-alegrense à figura extraordinária de David Zimmermann. É uma honra para nós, nesta manhã, aliás, uma singularidade: numa manhã, tantas pessoas presentes! No curso do meu mandato de Vereador, assim como no dos Vereadores Luiz Braz, Henrique Fontana, já participei de muitas Sessões Solenes, mas poucas tiveram esta presença tão significativa. Como estamos reunidos com o povo porto-alegrense, podemos fazer esse tipo de confidência. Se já em Sessões normais é difícil reunir um público normal de assistência, a uma outorga de título, só mesmo um reconhecimento desta natureza, num horário fora dos horários normais, para trazer um público tão seletivo e tão representativo como este que veio hoje na Câmara de Vereadores prestar esta homenagem por ocasião da outorga do Título de Cidadão Emérito de Porto Alegre. A Cidade de Porto Alegre, Prof. David Zimmermann, lhe é agradecida e se sente honrada em lhe outorgar, nesta manhã, o Título de Cidadão Emérito da Cidade de Porto Alegre. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Isaac Ainhorn falava, na sua peroração, do título que está recebendo agora o Prof. David Zimmermann. Para o Título de Cidadão Emérito ser aprovado na Casa ele tem que receber 2/3 dos votos, portanto, não é um título fácil de ser recebido, não é um título que a Casa oferece a nomes ilustres, pois já houve nomes que foram propostos e que não foram aceitos. Para se conseguir os 2/3 dos votos são necessários 22 votos favoráveis do total de 33 Vereadores. Isso significa que não bastam ter 22 Vereadores no Plenário, nós precisamos, na verdade, de 22 votos favoráveis. No caso do Prof. David Zimmermann, tivemos uma votação toda ela favorável à concessão do título ao Professor. Um Plenário que, principalmente no início desta legislatura, tem-se apresentado com quórum bastante elevado. Não temos tido Sessões com menos de vinte e oito Vereadores. Se compararmos esta Câmara com outras instituições legislativas do País, esta aqui pode servir de exemplo. Nesta Legislatura e na do ano passado, nunca fizemos Sessões com menos de vinte e oito Vereadores, e os Vereadores ausentes estão trabalhando em suas Comissões, em seus locais de trabalho, onde têm sua representação.

Então, o Título de Cidadão Emérito é um título de grande realce e raras são as pessoas que podem conquistá-lo.

Parabéns ao Prof. David Zimmermann.

Presentes também o Dr. Miguel Hadad, representante da Sociedade de Psiquiatria do Rio Grande do Sul; o Sr. Mário Finckel, representando o Delegado do Ministério de Educação e Desporto do Rio Grande do Sul; Conselheiros; diretores e funcionários da Fundação Instituto Mário Martins; colegas, professores e alunos do homenageado. Para falar em nome da Bancada do PT, o Ver. Henrique Fontana.

 

O SR. HENRIQUE FONTANA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Eu gostaria de começar minha fala com todos vocês e com o Prof. David, dizendo que sou um Vereador novo nesta Casa. É minha primeira legislatura; estou aqui há um ano e meio, mais ou menos. Em muitos momentos, ainda ficamos atrapalhados em determinadas situações, sobre o que dizer, como fazer as coisas, imaginando como são essas Sessões. Eu quero partilhar um sentimento pessoal com vocês. Muitas vezes somos convidados a fazer falas meramente protocolares e eu, particularmente, tenho uma resistência a isso. Eu acho que as falas protocolares não contribuem muito para construir aquilo que nós queremos, que é uma sociedade diferente. Quando eu fiquei sabendo da concessão do título ao Professor David, que não conhecia pessoalmente, me chamou a atenção porque a Professora Aida, que foi minha professora, falava muitas vezes no Davisão, que algumas pessoas diziam que iriam fazer um curso neste local, no Mário Martins, tenho diversos colegas que se dirigiram para a área da psiquiatria, psicanálise, psicologia, etc. Fiquei pensando que havia muitas pessoas que iriam estar aqui, com quem realmente eu tinha alguma intimidade e tive vontade de falar nesta homenagem ao Professor David Zimmermann. Por isso, eu pedi para falar pela Bancada do meu Partido, e para vir aqui conversar com vocês hoje. Eu fiquei pensando no que dizer como homenagem a uma pessoa que não conheço pessoalmente, mas que tenho diversos recados que vêm de diversas pessoas que conheço e que valorizam essa pessoa. Portanto, se eu valorizo essas que conhecem essa pessoa que é valorizada, é sinal que ela tem algumas qualidades importantes, porque é assim que temos uma referência na sociedade, pois quando muitos falam Bem de uma pessoa, é bom que observemos o que ela representa para a coletividade e para a sociedade.

Há uma coisa que me inquieta há muitos anos, inclusive foi o que me trouxe para a política, esta atividade tão desvalorizada em nossa sociedade. Uma experiência muito interessante em minha vida, mas vou pegar a última, quando eu dizia que era médico, normalmente eu era muito bem recebido e valorizado. Hoje quando digo que sou Vereador, tenho rapidamente que dizer que sou médico, sob pena de ser muito mal recebido, porque o conceito vigente é que pelo menos em 80% das situações, até que prove o contrário, o político é uma pessoa que desperta desconfiança, e é preciso assumir essa realidade, porque não podemos enfrentar este debate com hipocrisia, ele é assim mesmo, a sociedade tem razões para pensar assim. E o que me trouxe para a política foi exatamente aquilo que, talvez, seja o elogio que eu me sinto mais a vontade para colocar ao Professor David - que está representado aqui hoje, neste Plenário, pela presença maciça de pessoas, como colocou o Ver. Isaac Ainhorn -, é uma espécie de vontade de construir coisas coletivas, de participar de movimentos, associações, seja profissional, seja grupos de estudo que tentam aprofundar conhecimentos numa determinada área, que possam reverter em benefício daquele que é a finalidade última de todos nós, que é buscar um convívio e uma vida mais feliz para todos. E como nós temos uma convicção, e a grande maioria das pessoas que estão aqui tem, de que a nossa felicidade individual é muito importante e ela só vai ser construída quando nós conseguirmos acompanhar esta construção, aliás, quando um dos motivos da felicidade individual for a construção da felicidade coletiva. Esse é o desafio da sociedade, hoje. Nós temos sido convidados - e eu acho que este convite o Professor David não aceitou, a demonstração do que está aqui fala disso - a uma opção individualista e não uma opção, na verdade, por uma felicidade individual, que é muito importante, deve ser assumida por todos, porque nenhuma pessoa pode representar alguma coisa importante para a construção da felicidade coletiva se ela não for feliz individualmente. Agora, nós somos muito freqüentemente convidados a contrapor estas duas coisas. E, aí, nós podemos pegar as frases mais simples e as mais complexas, aquelas que vêm de um pessoa de pouco conteúdo cultural que diz: Olha, se eu não cuidar do meu lado, ninguém cuida, a gente tem que se virar, porque, senão, olha... não dá... Outro pode fazer uma digressão mais complexa, mas, também, frases embutidas sem a idéia da dicotomia, entre a felicidade individual e a felicidade coletiva.

Eu acho que este desafio está apresentado para nós e eu gostaria de colocar o meu elogio, já que nós estamos, aqui, numa Sessão Solene de homenagem ao Professor David Zimmermann. Se todas estas pessoas estão aqui é porque ele se comprometeu com muitas iniciativas coletivas da sociedade que o cerca, dos mais diversos setores. E eu acho que a humanidade está precisando disso, de muitas pessoas que arregacem as mangas e se comprometam com projetos coletivos, na certeza de que esses projetos dêem certo. E para que uma coisa dê certo não basta torcer, porque todos nós torcemos para que a seleção ganhe o tetra, todos nós torcemos para que a inflação acabe, para que o País mude de rumo, mas não basta torcer, é preciso se comprometer, é preciso agir. Aqui nós temos um exemplo vivo de alguém que dedicou boa parte da sua vida se comprometendo com questões de interesse coletivo. Portanto, fica aqui o meu abraço, a minha homenagem à minha professora e ao professor David Zimmermann. Parabéns pelo título que recebe, e que continue sempre representando isso que certamente o Senhor representa para estas pessoas que estão aqui e para muitas outras que não estão aqui. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Vou convidar o Ver. Isaac Ainhorn, proponente desta homenagem, para que faça a entrega do Título de Cidadão Emérito ao Prof. David Zimmermann.

 

(É feita a entrega do título.) (Palmas.)

 

(É feita a entrega da placa comemorativa.)

 

Peço licença ao Prof. David para fazer a leitura. (Lê.) “A Câmara de Porto Alegre confere o Título Honorífico de Cidadão Emérito a David Zimermann pela valiosa contribuição com seu trabalho em prol do engrandecimento da sociedade porto-alegrense. Porto Alegre, 23 de junho de 1994.”

E a leitura da placa que foi entregue pelo Dr. Luiz Antonio Bento Mostardeiro. (Lê.) “A Câmara Municipal de Porto Alegre concede o Título de Cidadão Emérito ao Prof. Dr. David Zimmermann, Presidente Honorário da Fundação Instituto Mário Martins. Porto Alegre, 23 de junho de 1994. Ver. Isaac Ainhorn - autor do Projeto; Ver. Luiz Braz - Presidente.” (Palmas.)

Passo agora a palavra ao filho do homenageado, Dr. Sérgio Zimmermann.

 

O SR. SÉRGIO ZIMMERMANN: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e os demais presentes.) Vou ler um agradecimento em nome de meu pai.

(Lê.)

“Em primeiro lugar, gostaria de expressar minha enorme satisfação por esta carinhosa homenagem, que recebo com muito orgulho, pois tenho muito amor pela minha Porto Alegre, amor este que aprendi a cultivar com meus pais, imigrantes que costumavam dizer que devíamos beijar a terra brasileira por ser dadivosa para os seus filhos. Quero também agradecer a gente dessa Cidade, que é responsável por muito do que hoje sou e represento.

Gostaria, neste momento, de remover a minha vida em Porto Alegre, mas não aquilo que vivi depois de minha formatura na Faculdade de Medicina, em 1946, aqui o Dr. Isaac já referiu, e se estamos todos hoje aqui reunidos, é justamente pelo que aconteceu na minha vida profissional, que muitos dos presentes acompanharam. Eu queria compartilhar um pouco com vocês daquilo que a maioria das pessoas aqui talvez não saibam a meu respeito e de minha família, minha iniciação e o meu relacionamento com esta Cidade e seu povo, desde menino até a minha formatura.

Nasci na Avenida Cauduro, no Bairro Bom Fim, naquela época uma ruela empoeirada de terra batida que chamavam de avenida. Era uma casa de porta-janela, com quatro peças pequenas talvez, uns 30 metros quadrados. Descobri Porto Alegre nos braços de minha mãe, acompanhando-a em suas viagens de trabalho ao centro da Cidade. A Dona Frida mascateava diversas mercadorias. Ainda criança, fazia o curso infantil no Colégio Rosário, mas gostava mesmo era de trabalhar com minha mãe. Meu pai adoeceu muito cedo, e quando a situação financeira ficou muito difícil, tive que abandonar o Rosário e fui estudar, à tarde, no Parobé, onde aprendi tipografia, marcenaria, sapataria e outras profissões manuais.

Lembro-me de alguns episódios daqueles anos 30, de como eu gostava de jogar futebol na “Várzea”, hoje o Ramiro Souto do Parque Farroupilha. Minha mãe orgulhosamente sonhava que um dia eu ainda seria um funcionário do Banco do Brasil.

Já adolescente, ainda mascateando, varrendo lojas, fazendo toda a sorte de pequenos trabalhos que rendessem alguns vinténs, comecei a levar os estudos mais a sério e a me esforçar muito ‘para ser alguém na vida’. Acabei conseguindo uma vaga no Ginásio do Colégio Anchieta, lá na Duque de Caxias, graças ao Prof. Fassina, Diretor do Curso Noturno, que me ajudou me recebendo fraternalmente. Fui muito sincero com ele dizendo, desde o princípio, que teria muitas dificuldades em pagar o curso, e ele retribuiu essa sinceridade sendo uma pessoa franca e amiga, um excelente professor. Naquela época, tinha dificuldade de encontrar um local para estudar. Minha casa era muito acanhada. Apesar de ser filho único e minha família ser pequena, a casa sempre estava cheia de primas, outros parentes e vizinhos. Foi nos parques de Porto Alegre que encontrei refúgio para meus estudos. Gostava especialmente dos jardins da Caixa D’Água, no Moinhos de Vento, do Prado Velho ou da Redenção. Quando conhecia alguém que pudesse me ensinar alguma coisa, pedia aulas particulares e pagava como podia, muitas vezes com meu próprio trabalho. Devo muito ao professor Emílio Mayer, pessoa humilde, tolerante, prestativa, extremamente humano, que me deu aulas de Português e me indicou alunos para que eu ensinasse Inglês e Matemática. Alguns desses alunos foram aprovados em concursos no Banco do Brasil.

Acabamos nos mudando para o Partenon, alugando uma casinha de quatro metros de frente na Av. Bento Gonçalves, próximo à rua Machado de Assis. Lá abrimos uma pequena loja de miudezas e uma fabriqueta de bombachas. Foi no Partenon que conheci pessoas maravilhosas, algumas delas poderia dizer que “adotaram” a mim e aos meus pais, nos ajudando, em muito, a vencer nossas incontáveis dificuldades.

A Rua da Praia e suas figuras típicas também me fascinavam. Muito da minha adolescência foi passada por ali, nas idas e vindas para o trabalho ou os estudos. Nunca vou me esquecer da esquina da Ladeira com a Rua da Praia. Quando tinha um pouco de dinheiro, às sete da noite, antes de subir para o Ginásio, eu jantava por ali um pão. Se tinha um pouco mais de dinheiro, esse pão vinha com manteiga. Quando eu realmente podia ‘esbanjar’, pedia um pão com queijo derretido e canela por cima. Aquilo para mim era o máximo. Os tempos eram realmente muito difíceis, tempos de ‘guerra’.

Foi na segunda tentativa, em 1941, que entrei para o Curso de Medicina. Uma das coisas que mais me marcaram foi o desfile da ‘marcha dos bixos rumo ao banho da Praça da Alfândega’, ao longo da Rua da Praia. Como era costume, fiquei irreconhecível de tanta tinta que me colocaram. Naquela época, havia muito menos pessoas no Centro da Cidade, e praticamente todos se conheciam. Lembro com muito carinho de quando cheguei em casa e fui para a banheira. Meu pai, muito orgulhoso, veio me ajudar a esfregas as manchas de tinta das costas.

Na Sarmento Leite, na Faculdade de Medicina, fiquei até 1946, quando termina esta história. A partir daí, pude retribuir um pouco para esta Cidade que tanto me deu. Hoje também é o meu dia de homenagear, de agradecer Porto Alegre e seus habitantes, seus parques, enfim, por tudo que me deu, pelo que sou. Agradeço a todos vocês por me permitirem esta oportunidade de homenagear à minha querida Cidade. Muito obrigado.”

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Nós acabamos de ouvir a história de um homem que chegou na cidade e o exemplo de sua luta, sempre marchando pela estrada da dignidade, e que consegue chegar ao apogeu da glória. A história do Dr. David, contada através de seu filho, da Tribuna, deve servir de exemplo para todos nós e tem que ser do conhecimento de todo o público. É um pena que hoje não temos, aqui, a imprensa, registrando a história do Dr. David. Nós temos apenas os jornalistas da Casa, que espero que mandem a história do Dr. David para os meios de comunicação, para a imprensa. Porque eu não tinha visto ainda nos meios de comunicação a publicação dessa história, que é uma história de luta. O Dr. David disse “A Cidade me deu”, e eu não vi, em momento algum do relato, a Cidade lhe dando alguma coisa. Ele é que conquistou, com a sua luta, na sua trajetória de muitas batalhas, tudo aquilo que ele imaginou e, graças a Deus, pôde chegar aonde chegou e dar para a Cidade tudo o que deu. Hoje, com esse Título de Cidadão Emérito, a gente está tentando dizer ao Dr. David: muito obrigado pelo muito que fez pela nossa Cidade. (Palmas.)

Estão encerrados os trabalhos.

 

(Encerra-se a Sessão às 11h57mim.)

 

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